O Brasil tem o mais alto índice de hanseníase no continente americano. O país contribuiu com 16% de todos os casos novos detectados mundialmente, sendo que a doença se concentra nas regiões mais pobres do país, especialmente no Nordeste, onde há a maior número de beneficiários do Bolsa Família, além das regiões Norte e Centro-Oeste. Em 2014, o Brasil registrou 24,6 mil novos casos – resultado inferior aos 31 mil, de 2013, e 51,9 mil, de 2003.
Segundo o estudo, a Estratégia de Saúde da Família contribuiu para aumentar a identificação de novos casos de hanseníase. Já o Bolsa Família, direcionado às pessoas mais pobres do país, foi associado pelos pesquisadores à redução de novos casos, uma vez que a transferência de renda pode aumentar o consumo de alimentos e reduzir a insegurança alimentar e a fome, fatores que contribuem para a ocorrência da doença.
O Bolsa Família, maior programa de transferência de renda do mundo, apoia a redução da desigualdade no país, ao manter 36 milhões de pessoas fora da extrema pobreza. Já o Saúde da Família, com suas equipes de médicos, enfermeiros, agentes de saúde e dentistas, atende à população especialmente nas áreas mais carentes, fundamental para o aumento na detecção da hanseníase, favorecendo o início do tratamento e prevenção de novas contaminações.
Os pesquisadores concluíram que os programas voltados para a melhoria das condições socioeconômicas e de saúde da população, em longo prazo, podem ter impactos no controle da transmissão e ocorrência da hanseníase e outras doenças ligadas à pobreza. A literatura científica para respaldar o vínculo entre programas de melhoria social e a redução da doença é escassa. Sabe-se, no entanto, que, em países como Noruega, Espanha e Japão, o recuo da doença está associado ao aumento das condições socioeconômicas da população.
A pesquisa levou em conta alguns indicadores associados com a incidência de novos casos da doença, como urbanização, pobreza, analfabetismo, desemprego, número de pessoas na família e de jovens com menos de 15 anos de idade, além do índice de Gini – medida internacional de desigualdade socioeconômica. Quanto menor o índice de Gini, mais próximo o país está da distribuição mais igualitária de sua riqueza.
Ao final de oito anos de estudo, todos os índices apresentam melhorias nos municípios estudados: urbanização (61,3%, em 2011); percentual da população pobre (de 43,8 para 29,8%), analfabetismo (de 23,1 para 19,6%); desemprego (9,0 para 6,9%), número de pessoas na família (3,9 para 3,5), proporção de jovens com menos de 15 anos (34,7 para 28,3%) e índice de Gini (de 0,56 para 0,53).
O estudo Efeitos dos programas brasileiros de transferência de renda condicional e atenção primária à saúde no coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase é assinado pelos pesquisadores Joilda Silva Nery, Susan Martins Pereira, Davide Rasella, Maria Lúcia Fernandes Penna, Rosana Aquino, Laura Cunha Rodrigues, Maurício Lima Barreto e Gerson Oliveira Penna.
WSCOM