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Após 20 anos, pernambucana adotada por casal francês, volta ao Brasil para conhecer família



Adotada aos 7 anos por um casal francês, a pernambucana Rebecca Avogrado retornou ao Brasil pela primeira vez após 20 anos para realizar um sonho: conhecer os pais biológicos.


O reencontro foi possível por conta de uma ação social do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), o Projeto Origens, que permite que qualquer pessoa adotada possa conhecer a família biológica.


Rebecca nasceu no Recife e viveu parte da infância no bairro de Nova Descoberta, periferia da Zona Norte da cidade. Ela veio de uma família humilde, de nove irmãos, e aos 4 anos foi levada para o abrigo Casa dos Amigos, porque os pais não tinham condições de criá-la.


Aos 7 anos, ela e outros dois irmãos foram adotados por um casal francês, e os três passaram a morar na Europa. Desde então, Rebecca não teve mais contato com a família biológica. Até que, em 2020, decidiu buscar suas raízes.


"Todo o meu desenvolvimento foi marcado por esse sentimento de raiva em relação à mãe biológica. Mas um dia li um livro sobre o perdão e despertei para isso, para saber quem eu sou e construir minha identidade", disse.

Reencontro de Rebecca e a mãe biológica Ruth aconteceu após 20 anos — Foto: Reprodução/TV Globo

No Recife, Rebeca visitou o prédio onde funcionou a escola em que estudou e o abrigo onde viveu até ser adotada. A jovem não fala mais português e precisou de uma intérprete para se comunicar com as pessoas.

As primeiras que ela reencontrou foram uma das irmãs biológicas, Juliana, e Valdirene, a cuidadora do abrigo que acolheu a jovem.

Já o encontro mais aguardado foi com a mãe biológica, Dona Ruth, que mora em Dois Unidos, também na Zona Norte da cidade. O momento foi cheio de emoção. Ela também conheceu o pai biológico, José Gregório, que mora em Caetés, no município de Abreu e Lima, no Grande Recife.

"Esse encontro eu vivi com muita paz. Eu fiz esse percurso de cura e de trabalhar o perdão ao longo desses anos e, quando eu encontrei com ela, eu estava totalmente entregue ao momento e em paz", afirmou Rebecca.

Reencontro entre Rebecca e a irmã Juliana — Foto: Reprodução/TV Globo

Rebecca conta que, mesmo depois de 20 anos longe do Brasil, outro registro que não saiu da memória foi o das comidas que ela costumava comer durante a infância. Na França, Rebecca trabalha como educadora social, profissão que, para ela, tem relação direta com a história dela.


"Um professor me disse que eu tinha perfil para ser educadora, e eu me lancei nessa profissão. Hoje, eu cuido de crianças como a que eu fui no passado. Cuido dessas crianças que foram inseridas em famílias adotivas", disse.


Foi o atual presidente do TJPE, Luiz Carlos Figuêiredo, quem, na época, assinou a sentença de adoção de Rebecca. Para o magistrado, a história de Rebecca representa um dos muitos casos de pais que não puderam ficar com seus filhos biológicos.

"As famílias as vezes não queriam entregar seus filhos. [...] E você ter uma oportunidade de ter outra família, seja brasileira ou estrangeira, comprovadamente é o melhor passaporte de felicidade", afirmou.

g1