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"A gente tem medo de quem tá vivo", Disse Jovem que 'mora' em cemitério, em cidade do Sertão da Paraíba



Há cerca de três anos, o teto onde Glauberto Willame encontra a segurança para deitar e dormir tranquilamente é o mesmo que causa arrepios em muita gente. Desempregado e em situação de rua, ele vive no Cemitério Nossa Senhora da Conceição em Poço de José de Moura, município do Sertão da Paraíba.


O jovem não recorda há quanto tempo exatamente precisou recorrer à estadia. Mas a lembrança de que precisou sair de casa ao fim de um relacionamento prevalece. A relação conturbada com o pai e o restante da família, desde que o grupo deixou o Ceará, terra natal deles, o deixou sem um ponto de apoio.


    Ele diz que não se importa com as "companhias". Glauberto confessou que até sentiu medo na primeira noite que dormiu em uma sepultura. Garante, ainda, que nunca viu uma atividade paranormal.

    “A gente tem que ter medo de quem tá vivo”, brincou.

    A partir da segunda experiência em diante, disse que se sentiu em casa por estar longe do frio que sentia ao relento, nas ruas.

    A passagem pelas sepulturas não é fixa. Geralmente, ele "repousa" nas que estão abertas, que não sabe a quem pertencem.

    Para se alimentar no horário do almoço, ele conta com a solidariedade do dono de um pequeno restaurante na cidade, que serve a refeição dele todos os dias.

    Quando faz bicos como uma espécie de faz tudo, e ganha a quantia de R$ 40 a R$ 50 pelo dia de trabalho, o jovem compra alimentos e guarda na casa de um amigo. “Quando quero jantar, vou lá e peço pra ele cozinhar”, contou.

    Mesmo não se incomodando em dormir no cemitério, Glauberto quer ter uma situação mais confortável, a começar por um emprego, que pode garantir o sustento dele e bancar um novo lar.

    “Trabalho de tudo um pouco pra não ficar sem nada”, revelou.

    Glauberto dorme em cemitério durante o dia e também no turno da noite — Foto: Fernando Antônio / Diário do Sertão

    Glauberto dorme em cemitério durante o dia e também no turno da noite — Foto: Fernando Antônio / Diário do Sertão

    Preso após se passar por preso

    Em 2017, Glauberto foi detido após ser flagrado cumprindo pena no lugar de outra pessoa na cadeia de São João do Rio do Peixe, também no Sertão paraibano. Na época, a Polícia Militar informou que ele contou que o condenado pagava R$ 50 para que ele dormisse na cadeia nos finais de semana.

    O caso foi identificado após a diretoria da cadeia receber uma denúncia do caso. O diretor da unidade fez uma chamada dos albergados e constatou que o homem que estava preso não era o que havia sido condenado.

    Ainda de acordo com a PM, o homem contou ao diretor que além do dinheiro pago, o condenado havia falsificado o documento de identidade trocando a foto original pela foto do 'substituto' para que ele pudesse entrar na cadeia sem ser identificada a troca.

    Sobre a prisão, Glauberto disse que também estava desempregado na época. Com isso, ele justifica o fato de que, mesmo sabendo que se tratava de um crime, ele resolveu aceitar a proposta. Passou alguns meses preso e depois um pouco mais de dois anos em condicional.

    O G1, com a assessoria de comunicação da Polícia Civil da Paraíba disse que essa é a única passagem de Glauberto pela polícia.


    Rap para passar o tempo

    Glauberto não fica o dia todo cemitério. Como não tem uma ocupação fixa, tem uma atividade que o ajuda a passar o tempo: compor e cantar raps.

    Ele até tinha um canal para publicar vídeos, mas disse que foi hackeado e agora, como não tem celular, não tem como manter uma página.

    Ele contou que não não escreve sobre algo específico, mas que as inspirações são o grupo musical Racionais MC’s e o cantor Hungria.


    *Com colaboração de Fernando Antônio, do Diário do Sertão.