É
perceptível no momento atual brasileiro uma “guerra” discursiva, que busca
transmitir a sociedade uma visão absolutista da “verdade”. Muitas das
informações que são veiculadas apresentam conteúdos, que podem ser vistos como
mera opinião dos seus autores, porém, são disseminadas de uma forma capaz de
inculcar na mente dos leitores e telespectadores como a verdade incontestável.
Diante deste cenário, é oportuno levantar algumas questões pertinentes à
discussão. Assim, o que é a verdade? Como ela pode ser construída? Existe uma
verdade absoluta, que não pode ser questionada?
Estes questionamentos servirão para
refletirmos a cerca do tema em debate, para que possamos entender melhor a
temática, a fim de levar os leitores a uma conscientização no momento em que
fizer o uso das informações trazidas pelos vários veículos de comunicação. A
intenção aqui, não é jamais construir um discurso unânime e impossível de ser
questionado.
Para Michel Foucault, em seu livro
microfísica do poder, “a “verdade” [...] é produzida e transmitida sob o
controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos
ou econômicos (Universidade, exército, escrituras, meios de comunicação); É
objeto de debate político e de confronto social (as lutas “ideológicas”.)”. (FOUCAULT,
2018, p. 52).
Nesta lição, é possível percebermos
que a verdade não existe de uma forma única, uma vez que pode ser construída
por diversas instituições sociais. No entanto, o cerne da lição é que a suposta
“verdade” serve para atender aos interesses de lutas ideológicas. Desta forma,
cada grupo social procura transformar seus interesses em “verdades” absolutas, a
fim de conseguir adeptos para a consecução de seus objetivos, de seus ideais,
de seus desejos.
Diante do exposto, cabe trazer o
ensinamento de José Luiz Fiorin em seu livro Linguagem e Ideologia, na qual nos
orienta que, a “ideologia; [...] ela é uma “visão de mundo”, ou seja, o ponto
de vista de uma classe social a respeito da realidade, a maneira como uma classe
ordena, justifica e explica a ordem social.”. (FIORIN, 2007, p. 29). Deste
jeito, é nítida a finalidade da construção da “verdade”, em que um determinado
grupo social para implantar o seu sistema de ideias e pensamento, passa a
transmitir os seus pontos de vista como indiscutíveis “verdades”.
Para fazer a divulgação maciça de
seus desejos como verdadeiras “verdades”, o grupo social lança mão de seus discursos,
que no pensar de Fiorin, “[...] discurso é a materialização das formações
ideológicas, sendo, por isso, determinado por elas, o texto é unicamente um
lugar de manipulação consciente, em que o homem organiza, da melhor maneira
possível, os elementos de expressão que estão a sua disposição para veicular
seu discurso.” (FIORIN, 2007, p. 41).
Diante do exposto, podemos
visualizar que por meio do discurso, as pessoas de determinados grupos sociais
constroem seus textos, objetivando a manipulação dos demais indivíduos, isto de
modo consciente, calculado e planejado. Assim, estes grupos propagam suas
ideias como “verdades” absolutas na busca da idealização de seus intentos,
procurando por meio destes discursos, plantar uma “verdade” nos leitores e
consumidores, no entanto, o que se percebe é que a função desta suposta
“verdade” tem um fim bem definido, que é a manipulação da forma de pensar de
uma sociedade, ou pelo menos da maior parte dela.
Com estas reflexões apresentadas, é
possível compreendermos que a “verdade” é construída pelas pessoas, que fazem
parte de uma organização social, usando para isto a linguagem, as instituições
e veículos de comunicação sociais disponíveis, para a concretização de suas
ideias e pensamentos. Assim, faz-se necessário que ao lidar com as informações
trazidas neste contexto político polarizado em que estamos presenciando, termos
a sensibilidade de pelo menos perceber o que se está por trás do discurso que
se propaga. Não falo aqui em detectar “Fake News”, e sim entender a verdadeira
manipulação dos fatos por meio dos discursos que são disseminados, ou melhor, o
que estão pretendendo construir como “verdades” inquestionáveis e absolutas,
que na maioria das vezes não passam de manipulação das pessoas em busca da
concretização de suas intenções políticas, neste caso, partidárias mesma.
REFERÊNCIAS
FIORIN,
José Luiz. Linguagem e ideologia. 8
ed. São Paulo: Ática, 2007.
FOUCALT, Michel. Microfísica do poder. 7 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra,
2018.