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À CPI, Nise nega 'gabinete paralelo' e contradiz Mandetta sobre bula



A médica oncologista Nise Yamaguchi falou à CPI da Covid, no Senado, por mais de sete horas nesta nesta terça-feira (1º). Ela contradisse o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta sobre suposta tentativa de alterar a bula da cloroquina e negou participação em um suposto "gabinete paralelo" para decisões e aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro em temas relativos à pandemia.

A médica do Hospital Israelita Albert Einstein, que participou de discussões junto ao governo sobre estratégias contra covid-19 e foi cotada para ser ministra da Saúde, foi bastante questionada sobre a defesa que faz do tratamento precoce e do uso da cloroquina para pacientes com covid-19. Ela afirmou haver evidências científicas dos benefícios e que se sentiu em um "estado de exceção" diante das cobranças e críticas dos senadores nesta terça.  

Um dos temas mais presentes foi a tentativa de alteração da bula da cloroquina. Nise contradisse o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, que afirmou à comissão que a médica propôs mudança da bula em reunião no Palácio do Planalto no ano passado. Também apresentou versão contrária à do ex-ministro Luiz Henrique Madetta, que afirmou ter visto na reunião uma minuta para alterar a bula da cloroquina.

Segundo a médica, no encontro realizado em abril do ano passado discutiu-se uma minuta relativa ao medicamento, mas que não se tratava de um documento para a alteração das recomendações de uso do remédio. Conforme a oncologista, era um "um rascunho de como poderia ser disponibilizada uma medicação que estava em falta" e abordava também a "adesão ao tratamento de acordo com um consentimento livre esclarecido e notificações no site da Anvisa".

Ela também descartou que na reunião tivesse sido debatida a edição de um decreto presidencial para alteração da bula. "Não existiu ideia de mudança de bula por minuta, nem por decreto", disse.

Tratamento precoce

A médica é conhecida por defender o tratamento precoce e a cloroquina contra a covid-19,  apesar de grande parte da comunidade científica apontar que não há eficácia comprovada e  indicar possíveis efeitos colaterais. 

Nise Yamaguchi afirmou haver evidências científicas, citou estudos e afirmou que há grupos de pesquisa que submeterão suas conclusões novamente a agências regulatórias. 

"Isso que está se tentando fazer aqui, a demonização do tratamento precoce, é uma coisa muito grave. É a destruição de um tratamento que tem salvado vidas no Brasil", disse.

Diante das críticas, a médica afirmou se sentir "agredida" e em um "gabinete de exceção" na CPI. O senador Otto Alencar (PSD-BA) que é ortopedista, foi um dos mais exaltados. "A senhora não sabe nada de infectologia. Nem estudou, doutora", afirmou.

Senadoras como Leila Barros (PSB-DF) chegaram a levantar a questão de que a médica estaria sendo interrompida por senadores homens com maior frequência do que outras pessoas que foram à CPI pelo fato de ser mulher.

'Gabinete paralelo'

Nise negou que o encontro realizado com autoridades do governo em abril do ano passado tivesse sido uma reunião de um suspoto gabinete paralelo e não oficial do governo para aconselhamento e decisões envolvendo à pandemia." Fui convidada científica para a reunião, uma reunião oficial, dentro da Presidência da Casa Civil, com o ministro da Saúde [Mandetta] e o presidente da Anvisa", afirmou.

Suspensão

Em julho do ano passado, Nise Yamaguchi foi suspensa pelo Hospital Albert Einstein por fazer uma analogia entre o pânico da pandemia e o Holocausto - como é conhecido o genocídio de 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.

"Você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela massa de rebanho de judeus famintos se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações, humilhações...", disse a médica. Após a entrevista ser publicada, ela se desculpou.

R7