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Sputinik: decisão da Anvisa é “impecável”, diz especialista

Para o ex-secretário nacional de vigilância sanitária Wanderson de Oliveira, a decisão da Anvisa que não recomendou a importação da vacina russa Sputinik V é tecnicamente correta, mas a falta de informações poderia ser sanada mediante obtenção de dados junto aos mais de 60 países que aplicam o imunizante. 

A Anvisa consultou 62 deles, e obteve resposta parcial apenas da Argentina. Diante do prazo estabelecido para se pronunciar e da falta de dados confiáveis, o parecer da agência foi contrário à importação. Pelo menos 14 estados acionaram a Justiça para importar a vacina russa.

“A Anvisa tomou uma decisão dura, mas impecável”, avalia Oliveira. “A agência está correta em exigir estas informações. Estamos lidando com um produto em desenvolvimento e semiacabado”, comenta, acrescentando que “trata-se de um Organismo Geneticamente Modificado Replicante”.

Para o epidemiologista, no entanto, seria importante acionar organismos internacionais de controle e a própria OMS para formar um banco de dados internacional e padronizar procedimentos em escala global. Entre eles estão o ICMRA, International Coalition of Medicines Regulatory Authorities, e o PICS, Pharmaceutical Inspection Co-operation Scheme – ambos já contactados pela Anvisa.

“Minha sugestão é que eles provoquem um debate amplo e aberto com a OMS para que tenhamos um banco de dados com compartilhamento de informações que são o mínimo denominador comum para uso destes organismos geneticamente modificados”, observa Oliveira.

A principal advertência feita pela Anvisa é quanto à segurança do imunizante, uma vez que foi constatada a replicação do adenovírus usado como vetor da vacina Sputinik - considerado "um dos pontos críticos" da fórmula russa. Para o gerente geral de medicamentos da agência, Gustavo Mendes, trata-se de "uma não-conformidade grave". "Isso significa que o vírus que deve ser utilizado apenas para carrear o material genético do coronavírus para as células e assim promover a resposta imune, ele mesmo se replica”, declara Mendes. “Esse vírus que era para ser só um vetor e não se replicar, ele, no seu procedimento de cultivo junto à célula, começa a se replicar. Ele readquire essa a sua capacidade”.


POR CHRISTINA LEMOS