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Internação de jovens por Covid-19 em UTIs é recorde: ‘Metade não tem comorbidade’, diz fisioterapeuta

Após mais de um ano desde o anúncio do primeiro caso da Covid-19 no Brasil, o país atinge o pior momento da pandemia, registrando o recorde de mais de 2 mil de mortes na média móvel e totalizando mais de 290 mil vidas perdidas. Segundo a Fiocruz, o Brasil atravessa o “maior colapso sanitário e hospitalar de sua história”. 

A projeção realizada pela instituição aponta que o número de hospitalizados pela Covid-19 aumentará em 23 estados e no Distrito Federal — e o perfil dos pacientes tende a ser cada vez mais jovem. As pessoas com menos de 60 anos já compõem 48,4% do total de internações em março no país, e representam 50,8% dos leitos ocupados de UTI no Estado de São Paulo. 

Ambos os números cravam recordes para a faixa etária desde o início da pandemia. “A alta de internações nesta faixa etária reflete características das variantes, como o índice mais elevado de transmissibilidade e, em alguns casos, maior carga viral — o que repercute em manifestações clínicas mais graves, no crescimento da demanda por hospitalização e tratamento em UTI e, infelizmente, no aumento de mortes”, explica a infectologista Melissa Palmieri à Jovem Pan.

De acordo com ela, o aumento das contaminações entre os mais jovens pode ser devido a um fator de associação, que soma o surgimento de novas cepas aos comportamentos de aglomeração das festas de final de ano, das férias de janeiro e do Carnaval clandestino. “Em janeiro, após as festas de final de ano, recebemos um paciente de 34 anos que chegou ao hospital bem, conversando. 

No entanto, ele piorou muito rápido e precisou ser intubado com suporte total de ventilação mecânica. Os exames dele apenas indicavam piora, dia após dia. Precisávamos virá-lo de barriga para baixo, mesmo intubado, para ventilar os pulmões. Foi muito grave. Depois de 13 dias intubado, ele conseguiu se recuperar, mas saiu da UTI com uma força muscular tão pequena que está reaprendendo a andar. Esse homem nos despertou o olhar de: ‘Cada vez mais estão chegando pacientes mais novos e graves'”, relatou uma fisioterapeuta respiratória, que trabalha intubando e reabilitando pacientes no Hospital Universitário da USP, em São Paulo. Segundo a profissional, que pediu para não ser identificada, a quantidade de jovens hospitalizados só aumenta desde este caso.

Quantidade de idosos em UTI diminuiu

Dados da Fiocruz indicam que as internações entre os mais jovens têm crescido exponencialmente, sobretudo na faixa etária de 30 a 59 anos que, em São Paulo, apresentou alta de 10,3% em março, em comparação ao mês de dezembro. Enquanto isso, a instituição registrou queda de 11% na quantidade de idosos hospitalizados no Estado nos últimos dois meses. “Atualmente, o que mais temos na UTI são jovens entre 30 a 40 anos. Diminuiu muito a quantidade de idosos, inclusive há poucos pacientes com idade superior a 70 anos. 

Estes jovens estão vindo em maior quantidade, com casos mais graves e que se agravam rapidamente. Metade dos pacientes mais novos da UTI não possuem nenhum tipo de comorbidade. Estamos muito assustados. Nesta semana internamos um rapaz de 20 anos e seu pai de 50, ambos contaminados com o coronavírus. O filho permanece internado com complicações, mas seu pai morreu neste período. Não temos mais vagas na UTI, precisamos intubar em média quatro pacientes por dia e estamos fazendo isto em leitos comuns, onde não há o suporte de UTI. Também não temos mais ventiladores, já tive que escolher qual paciente receberia o suporte respiratório”, contou a fisioterapeuta.

A infectologista Palmieri considera que, caso os brasileiros não mudem de postura frente à pandemia, a situação pode se agravar ainda mais. “O comportamento inadequado, especialmente dos jovens, tem propiciado o alastramento e mutações do vírus. Há o risco iminente do surgimento de novas cepas. 

Se não nos isolarmos, se não necessitarmos comparecer apenas a serviços essenciais, se não usarmos as máscaras e tomarmos cuidado com a higienização das mãos, temos a tendência de um crescimento caótico dos infectados, migrando cada vez mais para um público adolescente e infantil. É um custo que precisamos evitar.” Até esta quinta-feira, 18, o estado de São Paulo registrou 90,6% de ocupação dos leitos de UTI. 

No mesmo dia, a capital anunciou a primeira morte por falta de vaga na UTI e o prefeito Bruno Covas (PSDB), declarou que o colapso do sistema de saúde se aproxima na cidade. Por isso, a Prefeitura decidiu antecipar cinco feriados municipais a partir do dia 26 de março. “A falta de leitos e aparelhos é desesperadora. 

Eu mesma já segurei pacientes vivos e ventilando eles manualmente por muito tempo, até que vagassem ventiladores mecânicos. É sufocante. Pior de tudo é que as pessoas aguardam as vagas de UTI sozinhas e morrem sozinhas. Há poucos dias, um paciente me pediu para que eu mandasse um abraço para a sua filha porque sabia que estava indo embora. Ele morreu uma hora depois”, concluiu a fisioterapeuta.



Por Giullia Chechia Mazza