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Coronavírus: CRM-PB aponta lotação de hospitais e subnotificação em João Pessoa

Um levantamento feito pelo Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), na última semana (entre 10 e 13 de novembro), sobre a ocupação dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com Covid-19 de cinco hospitais da Grande João Pessoa, mostra que quatro estavam com capacidade acima de 70%.

Desses, apenas o Hospital Santa Isabel estava com a ocupação da UTI com 23%.

Os demais estavam com os seguintes percentuais de ocupação das UTIs: Hospital Universitário Lauro Wanderley com 100%; Complexo Hospitalar Clementino Fraga com 80%; Hospital da Unimed com 80%; Hospital Metropolitano com 70%.

No fim de semana (14/15 de novembro), equipes do CRM-PB estiveram também nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de João Pessoa – Oceania, Cruz das armas, Bancários e Valentina – e constataram que estão faltando testes para diagnóstico da Covid-19, o que pode gerar uma subnotificação da doença.

“Além de observarmos uma grande ocupação dos leitos de enfermaria e UTIs desses quatro hospitais, constatamos também que aumentou o número de atendimentos nas UPAs de João Pessoa e diminuiu o número de testes diagnósticos, o que leva a uma subnotificação da doença. Vimos que nas UPAs houve um aumentou do número de pacientes com síndromes gripais, mas muitos estão voltando para casa sem fazer o exame para Covid”, afirmou o presidente do CRM-PB, Roberto Magliano de Morais.

O presidente do CRM-PB ainda acrescentou que, conforme foi observado pelas equipes do Conselho, há pacientes com sintomatologia viral que estão sendo internados em hospitais de retaguarda, sem nenhuma confirmação de Covid-19 e sem estarem isolados dos pacientes com outras doenças. “A Regulação Municipal vem dificultando as internações de pacientes que não possuem Covid. Estamos diante de uma situação muito preocupante”, disse Roberto Magliano.

Privado registra alta de 130% nos atendimentos

Um hospital particular, o com o maior número de leitos e atendimentos Covid da rede privada de João Pessoa, estava com uma quantidade de pacientes semelhante ao período do pico da doença, em junho deste ano.

No último mês, houve um aumento de mais de 130% no número de pacientes atendidos semanalmente no hospital com síndrome gripal. Na semana entre 10 e 16 de outubro, foram atendidos 50 pacientes. Já na última semana (entre 7 a 13 de novembro), o hospital atendeu 118 pacientes.

“Dessa forma, podemos já estar enfrentando uma segunda onda da Covid em João Pessoa. É preciso cautela, cuidado e, principalmente, prevenção. O vírus continua circulando em nossa cidade e estado e é necessário que a população, profissionais de saúde e autoridades tenham consciência deste problema. O CRM-PB está preocupado, vigilante e disponível para ajudar no que for necessário”, completou Roberto Magliano.

CRM-PB publicou nota de alerta e reuniu-se com MPs

Na última quinta-feira (12), o CRM-PB publicou uma nota de alerta sobre o crescimento no número de casos de Covid-19 no estado. A autarquia disse que já “estava preocupada com uma ‘segunda onda’ da doença, principalmente, pelo desrespeito às normas sanitárias e às recomendações de distanciamento social”.

Na tarde de quinta (12), o presidente do CRM-PB, Roberto Magliano, conselheiros e a presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia da Paraíba, Maria Enedina Scuarcialupi, se reuniram com promotores do Ministério Público Federal, do Ministério Público Estadual e do Ministério Público do Trabalho para discutir o crescimento do número de casos de Covid-19, o aumento na ocupação de leitos no estado e as medidas preventivas que devem ser tomadas.

Conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), mais de 138 mil paraibanos já contraíram a Covid-19 e mais de 3,2 mil faleceram. Dentre os médicos, mais de 900 já foram infectados pelo novo coronavírus e 13 foram a óbito.

Principais pontos observados pelo CRM nas UPAs de João Pessoa

– Os testes rápidos para Covid-19 estão escassos

– Os pacientes com pouca ou média sintomatologia estão sendo orientados a retornarem às suas casas sem realizarem o teste para Covid-19

– Pacientes com sintomatologia viral estão sendo encaminhados para internação em hospitais de retaguarda, sem confirmação de Covid e sem serem isolados dos pacientes com outras doenças

– Pacientes com pouca sintomatologia são orientados a procurar Unidades Básicas de Saúde para agendar o exame, que normalmente necessita de um prazo igual ou superior a 7 dias

Dados de ocupação dos leitos de UTI dos principais hospitais da Grande João Pessoa (entre os dias 10 e 13 de novembro):

– Complexo Hospitalar Clementino Fraga – 80% – (10 leitos – 8 ocupados)

– Hospital Metropolitano – 70% – (20 leitos – 14 ocupados)

– Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) – 100% – (6 leitos – 6 ocupados)

– Hospital da Unimed – 80% – (20 leitos – 16 ocupados)

– Hospital Santa Isabel – 23% – (35 leitos – 8 ocupados)

Atendimento semanal de pacientes com Covid-19 no Hospital da Unimed

semana 32 (10 a 16 de outubro) – 50 pacientes

semana 33 (17 a 23 de outubro) – 69 pacientes

semana 34 (24 a 30 de outubro) – 83 pacientes

semana 35 (31 de outubro a 6 de novembro) – 104 pacientes

semana 36 (7 a 13 de novembro) – 118 pacientes

Secretaria de Saúde de João Pessoa

O secretário de Saúde de João Pessoa, Adalberto Fulgêncio, disse ao Correio Debate, da Rede Correio Sat, nesta terça-feira (17), que é preciso um estudo para que se verifique se há ou não subnotificação. Ele negou todos os problemas apontados pelo CRM-PB e fez críticas ao Conselho.

Fulgêncio afirmou que não foi comunicado oficialmente sobre o relatório do CRM-PB e por isso não poderia fazer comentários. Apesar disso, ele afirmou que houve uma ligeira alta nos casos de Covid em João Pessoa nas últimas três semanas, mas que não estaria pressionando a saúde pública da Capital. O secretário suspeita que essa pressão possa estar ocorrendo em hospitais privados, mas que, também, ele disse que não poderia comentar.

Quanto aos testes, Fulgêncio afirmou que eles são feitos apenas em pacientes com sintomas suspeitos e que há disponibilidade nas unidades de saúde.


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