Plantão

Crianças são acolhidas no Natal e passam data longe de abrigos, na Paraíba

De longe, parece uma casa como outra qualquer. Muro branco com detalhes azuis, portões de madeira, silêncio. Ao chegar mais perto, risadas e vozes infantis entregam o perfil dos moradores. Meninos e meninas que preferem sorrir depois de terem vivido alguns dias difíceis.
O Lar Jesus de Nazaré, em João Pessoa, acolhe crianças que foram negligenciadas de alguma forma pelos responsáveis. Casos de abuso sexual e agressão são uns dos motivos que levam as crianças até a casa.
Ao todo, são 27 crianças que vivem no Lar. A mais velha tem onze anos, e a mais nova completou o primeiro mês de vida.  A rotina lá não foge do comum: escola, brincadeiras, dentista, dever de casa.  Mas as vezes, os dias podem ser diferentes.

Na véspera de Natal, os meninos e meninas do Lar receberam a visita do Papai Noel. Foi um daqueles dias felizes, com direito a entrega de presentes e sorvete de chocolate. E a felicidade maior nem havia chegado ainda. Os moradores do Lar seriam acolhidos no Natal e no Ano Novo.
Todos os vinte e sete vão passar as duas datas longe do Lar. Uns vão ser acolhidos por padrinhos afetivos, ou irão passar com os próprios pais como uma etapa de reintegração à família. Alguns ainda vão ser acolhidos pelos próprios funcionários.

Segundo Michele Madruga Matos, coordenadora do Lar Jesus de Nazaré e guardiã legal das crianças, esse é um momento importante para as crianças. “Para que eles tenham a sensação do que é uma família, que eles aprendam a constituição familiar, e tenham a oportunidade de vivenciar isso”, explica.
A oportunidade de vivenciar experiências diferentes do Natal não é só das crianças. Quem acolhe um garoto ou garota também sente o impacto da novidade. A assistente social Janaína Santos ainda não tem filhos e vai ter um convidado extra em sua ceia de Natal. Emocionada, confessa: “É como se você estivesse gestante para um nascimento de hora marcada”.
Janaína é funcionária do Lar Jesus, mas o apadrinhamento afetivo, segundo Michele, é acessível e fácil para quem tem interesse. É só ir até o Núcleo de Apadrinhamento Afetivo Sorriso InfantoJuvenil (Napsi), da 1ª Vara da Infância e da Juventude de João Pessoa .
Chegando lá, é necessário passar por um cadastro onde vai ser avaliado se o interessado atende ao perfil de padrinho.  Após isso, caso aprovado, ele vai ser habilitado, e receber a carteirinha.
Sendo habilitado, as chances de melhorar a vida de uma criança são enormes. O juiz Adhailton Lacet explica que existem três tipos de padrinhos. O social, afetivo e financeiro. O financeiro é para quem buscar ajudar no custeio de atividades.
O social pode oferecer um serviço que contribua para construção social da criança, como terapia. Já o afetivo acompanha as crianças de perto, podendo levar elas para passeios ou para passar datas especiais, como no caso do Natal.
Mas é necessário ter cuidado, principalmente com as emoções da criança. “A criança tem que ficar consciente de que aquela pessoa é seu padrinho, não vai adotá-la. Poderá até vir se houver um fortalecimento de vínculo se a pessoa perceber que é isso que ela quer”, conta Adhailton.
Os acolhidos
Para que os pequenos entendam o processo, há consultas com psicólogos que acontecem regularmente. E apesar de carregarem passados marcados por momentos tristes, eles ainda sonham com um futuro feliz.
E antes mesmo do futuro chegar, D. com 10 anos, já se diz ‘feliz’. Ele tem sua história correndo em segredo de Justiça, mas sorri com a caixa de som que ganhou do Papai Noel, e tímido, conta que para ele, o Natal é o nascimento de Jesus.
Já A. se imagina sendo bombeiro. É o sonho do garoto, que tem sete anos e ganhou o capacete de bombeiro. Para ele, o Natal tem outro significado. “É muito bom porque vou ficar na casa de minha madrinha. Lá eu vou brincar, e vou ficar quatro dias”.
Os interessados para o projeto de apadrinhamento devem procurar o Napsi. Ele funciona das 12h às 19h, de segunda a quinta-feira, e, na sexta-feira, de 7h às 14h, na sede do Fórum da Infância e da Juventude da Comarca de João Pessoa, situado na Avenida Rio Grande do Sul, nº 956, bairro dos Estados. O telefone para contato é (83) 3222.6156, ramal nº 212.

Por Caroline Queiroz e Albemar Santos