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"Presépio ou Presepada?" Partido político causa polêmica na Itália com presépios com duas Marias e dois Josés



Uma imagem publicada em uma rede social pelo partido italiano +EUROPA (Più Europa, em italiano), no domingo, véspera de Natal, causou uma polêmica nas redes sociais.


Nela, quatro configurações variadas de famílias — duas mães, um pai e uma mãe, dois pais, e uma mãe solo — foram usadas para representar o presépio. Além disso, em duas imagens, o menino Jesus, tradicionalmente branco na cultura cristã, é colocado como um bebê preto.


Como legenda da publicação feita no X (antigo Twitter), o partido escreveu: “o belo da tradição é que elas podem mudar”.


A imagem levantou críticas de conservadores. O chefe da delegação do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), da atual primeira-ministra Giorgia Meloni, Carlo Fidanza, descreveu as releituras como “patéticas”, segundo a agência de notícias Ansa. Já a senadora Lavini Mennuni, também citada pela agência italiana, chamou a publicação do +Europa de “provocação” que “beira o ridículo”.


“Não compreendo esse desejo de atacar um dos mais belos e profundos símbolos da nossa tradição cristã”, afirmou Mennuni em uma publicação no X.


Suicídio político


A parlamentar, autora de um Projeto de Lei que impede as escolas de proibirem iniciativas e tradições católicas, como o próprio presépio, e teria afirmado estar “tentada a acrescentar um parágrafo para preservar a composição tradicional” do símbolo, segundo a Ansa. O deputado da mesma sigla, Antoni Baldelli, também criticou a imagem, afirmando que o +Europa teria feito as mudanças “para seu próprio uso e consumo político”.


A publicação também causou um mal-estar dentro do partido. A empresária ítalo-albanesa, Anita Likmeta, que militava no +Europa há alguns meses, mas sem nenhum cargo de direção, informou que deixou o partido. Likmeta veio como candidata nas últimas eleições pelo partido Impegno Civico, informou a agência italiana.


“Se +Europa pensa em defender a diversidade com acenos hipócritas à tradição, não estou disponível para o papel da Madonna lésbica. Adeus ao @Piu_Europa e feliz suicídio político (desassistido)!”, escreveu no X.


Uma Itália conservadora


Giorgia Meloni, nomeada como primeira-ministra da Itália em outubro do ano passado, chegou ao poder baseada em uma forte retórica anti-LGBTQIA+. Líder de um partido com raízes pós-fascistas, ficou conhecida por sua retórica virulenta, seu timbre estrondoso e seus discursos ferozes atacando lobbies favoráveis a gays, à integração europeia e a imigrantes.


Meloni proibiu governos locais de autorizarem o registro de crianças por ambos os pais ou mães caso sejam do mesmo sexo. Em julho deste ano, em Pádua, pelo menos 27 mulheres tiveram seu nome retirado da certidão de nascimento de seu filhos, após a lei argumentar que crianças fruto de inseminação artificial só terão a filiação da mãe que engravidou reconhecida. Os casais LGBTQIA+ também não podem adotar ou recorrer à barriga de aluguel — prática considerada ilegal na Itália.


Eleita, a premier tornou a Itália o primeiro país fundador da União Europeia com um Executivo de extrema direita. A ideologia também se reflete no Parlamento. A coalizão tripartite de direita — que une o FdI, a Liga, também da direita radical, e o centro-direitista Força Itália — teve 43,79% dos votos para a Câmara e 44,02% dos votos para o Senado. Terá 235 deputados em sua bancada, 34 a mais que o necessário para controlar a Casa. Os senadores deverão ser 115, 14 além da maioria.


A vitória das direitas deve-se principalmente ao desempenho excepcional do partido de Meloni — filha política de uma organização herdeira das ideias de Benito Mussolini, o Movimento Social Italiano (MSI), ela até hoje se recusa a condenar os atos do ditador. O FdI teve 26% dos votos na Câmara e no Senado, seis vezes os 4,3% que obteve há quatro anos, beneficiada pelo descontentamento popular com o status quo: a sigla foi a única que não havia participado de nenhum dos três governos formados depois da eleição de 2018.


O Globo