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Lula disse que BNDES vai voltar a distribuir dinheiro como antigamente, caso seja eleito



Economistas avaliam que tornar o banco um financiador de investimentos pode prejudicar mercado de capitais e pressionar taxa de juros 


O candidato Lula (PT), afirmou em entrevista ao WW Especial: Presidenciáveis nesta segunda-feira (12), que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltará a ser um banco de investimento. “Então a economia não tem mágica cara, nós vamos ter que colocar crédito para essas pessoas, vamos ter que fazer muito crédito, o BNDES vai voltar a ser um banco de investimento”, afirmou.



A fala do candidato petista à Presidência da República de reestabelecer o protagonismo do banco como o grande financiador de investimentos é criticada por economistas ouvidos pelo CNN Brasil Business.


Vinicius Carrasco, professor da PUC-Rio e ex-diretor do BNDES, diz que o foco na atuação do banco, a eliminação de financiamento com taxas de juros subsidiadas e a devolução de recursos ao Tesouro Nacional foram medidas importantes tomadas para, segundo ele, “corrigir a rota” da instituição. “O que se viu foi uma correção de rota, politicas mais focadas e devolução de recursos para o Tesouro. Então qualquer coisa que fuja dessas três dimensões é voltar ao passado”, afirmou.


Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de política monetária do Banco Central, durante o governo Lula, o banco emprestou dinheiro para grandes empresas com um baixo custo, o que impediu, ao longo do tempo, o desenvolvimento do mercado de capitais.


“Não tem nenhuma evidência de que a política que eles fizeram tenha tido impacto [positivo], pelo contrário, foi um impacto muito negativo. Tanto é que, quando pararam de dar o dinheiro subsidiado e houve a mudança no índice de correção dos empréstimos, o BC pode reduzir bastante a taxa de juros. É voltar ao passado em políticas que não funcionaram”, afirmou Figueiredo.


A capacidade de oferta de crédito também é um fator apontado por parte dos economistas como sendo algo que corrobora para a inviabilidade da proposta dita pelo ex-presidente. O especialista em finanças públicas Murilo Viana diz que, caso a medida fosse colocada em prática, é necessário que se detalhe qual seria o valor das taxas e qual o “tamanho” do BNDES que Lula imagina. Contudo, Viana pontua: “se vai ser o BNDES da época de 2010, 2011 e 2012, com taxa subsidiadas pelo governo, isso não é viável”.


Sergio Vale, especialista CNN em Economia e economista-chefe da MB Associados, lembra que estratégia de colocar a instituição como foco para o investimento também prejudica o mercado de capitais. “A reestruturação do sistema financeiro foi tirar o papel do BNDES como grande financiador de investimento e trazer isso para o mercado de capitais. Ajudou a desenvolver o mercado de capitais no Brasil nos últimos anos, principalmente, naquele período de taxas de juros mais baixas.”


Para o economista, reconduzir o banco para dentro desta discussão corrobora para manter elevado o risco de investimentos no Brasil, além de pressionar as taxas de juros e, consequentemente, dificultar o trabalho do Banco Central (BC). “Dá a impressão de voltar ao passado, de que não vai fazer o trabalho fiscal que é necessário, vai continuar mantendo o risco elevado. Isso mantêm taxa de juros pressionada e você mantêm o círculo vicioso que tivemos e que foi extremamente prejudicial para o crescimento”, disse.


Segundo um levantamento elaborado pelo Cemec-Fipe, o setor privado foi o responsável pelo crescimento na relação entre investimentos e Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no primeiro trimestre de 2022.


Nos três primeiros meses deste ano, os investimentos corresponderam a 17,91% do PIB no período. O valor é maior que os 17,55% registrados no mesmo período do ano passado. Em 2021, o valor chegou a 18,92%.


Os especialistas sugerem que o BNDES deve, em conjunto com o mercado de capitais, viabilizar recursos para pequenas e médias empresas. Além disso, manter o papel que vem desempenhando de auxiliar e organizar projetos de investimento.


“Por meio de uso de instrumentos do mercado de capitais, o banco conseguiu chegar na ponta, estruturar projetos de infraestrutura, por exemplo. Ao invés de conceder o crédito, ele organiza o projeto, ajudar em privatizações, ajuda em concessões”, disse Vinicius Carrasco.


Vale lembra ser necessário propostas de políticas fiscais “críveis” para a economia, algo que poderia auxiliar a conter as expectativas de inflação e, consequentemente, diminuir a atual taxa básica de juros.


Terra Brasil Notícias