"Posso ver o uso dessa vacina especialmente nos países onde a malária é um mal permanente, onde as crianças têm em média cinco, seis, sete episódios de malária por ano.
Assim, mesmo que vacina ofereça, digamos 30% de proteção, se você traduzir isto em número de crianças salvas e em número de episódios de malária evitados, claro que (a vacina) é uma contribuição significativa para o controle da malária", disse o especialista.
Mas ele acrescentou que os resultados são "desapontadores".
"Tínhamos muita expectativa em relação a essa vacina e o nível de proteção que ela proveria. Está sem dúvida abaixo do que esperávamos."
Ciclo do parasita transmitido pelo mosquito é complexo e resiste ao sistema imunológico humano
Proteção parcial
Quase 9 mil crianças entre 5 e 17 meses de idade e 6,5 mil bebês entre 6 e 12 semanas receberam a vacina em sete países africanos (Burkina Faso, Gabão, Gana, Quênia, Malauí, Moçambique e Tanzânia) entre março de 2009 e janeiro de 2011. Elas foram acompanhadas até o início de 2014. Segundo os dados publicados no Lancet, a droga protegeu um terço das crianças vacinadas no experimento.
Após receber três doses da droga, os níveis de efetividade em crianças mais velhas chegaram a 46%. Mas os efeitos em bebês foram menos significativos, afirmaram os cientistas.
Pesquisadores buscam uma vacina contra a malária, transmitida pela picada do mosquito, há 20 anos. Atualmente não existe nenhuma vacina aprovada contra a doença.
O autor do estudo, Brian Greenwood, da Escola de Higiente e Medicina Tropical de Londres, reconheceu que dificilmente os níveis de efetividade da vacina contra a malária se compararão aos da droga para prevenir o sarampo, que chegam a 97%.
O parasita da malária tem um ciclo de vida complexo e ao longo dos séculos aprendeu a resistir ao sistema imunológico humano.
A agência europeia de medicina vai revisar os dados e, se for aprovada, a vacina poderia receber autorização para produção comercial. A Organização Mundial da Saúde pode recomentar seu uso em outubro.
Ceticismo
Alguns cientistas receberam o resultado dos testes com reserva.
Para o professor Adrian Hill, da Universidade de Oxford, a droga é um "marco", mas deixa muitas questões em aberto.
"Pelo fato de a vacina ter um efeito tão curto, o reforço é importante - mas não tem a mesma efetividade das primeiras doses", afirmou.
"Mais preocupante é o indício de um repique na propensão a malária: após 20 meses, as crianças vacinadas que não receberam o reforço tiveram um aumento no risco de contrair malária grave nos 27 meses seguintes, comparadas com as crianças não-vacinadas."
Outros especialistas pediram que o custeio da vacina não implique reduções de investimento em medidas preventivas, como a distribuição de redes anti-mosquito.
IG.