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Presidente de Israel contesta Bolsonaro por sugestão de perdão ao holocausto

Memorial Yad Vashem e o presidente de Israel Reuven Rivlin, dizem que ninguém tem o direito de determinar se os crimes do regime nazista contra os judeus podem ser perdoados, como sugeriu o líder brasileiro em evento com evangélicos. 

O museu Yad Vashem divulgou um comunicado neste sábado (13/04) no qual diz que ninguém tem o direito de determinar se os crimes hediondos do Holocausto podem ser perdoados.

O comunicado é uma resposta a uma declaração de quinta-feira de Jair Bolsonaro. Durante um evento com evangélicos no Rio de Janeiro, o presidente brasileiro sugeriu que se pode "perdoar, mas não esquecer" o Holocausto.

"Fui, mais uma vez, ao Museu do Holocausto. Nós podemos perdoar, mas não podemos esquecer. E é minha essa frase: Quem esquece seu passado está condenado a não ter futuro. Se não queremos repetir a história que não foi boa, vamos evitar com ações e atos para que ela não se repita daquela forma", afirmou Bolsonaro.

O Yad Vashem, em Jerusalém, é um centro de memória do Holocausto. Ele se dedica a homenagear as vítimas e os que combateram o genocídio de seis milhões de judeus pelo regime nazista.

"Desde a sua criação, o Yad Vashem tem trabalhado para manter a lembrança do Holocausto viva e relevante para o povo judeu e a toda humanidade", completa a nota. "Não é direito de nenhuma pessoa determinar se crimes hediondos do Holocausto podem ser perdoados".

O presidente de Israel, Reuven Rivlin, divulgou, também neste sábado, duas mensagens no mesmo tom do comunicado do Yad Vashem, mas sem citar Bolsonaro.

"Sempre vamos nos opor àqueles que negam a verdade ou aos que desejam expurgar nossa memória — indivíduos ou grupos, líderes de partidos ou premiês. Nós nunca vamos perdoar nem esquecer", escreveu Rivlin no Twitter.

"O povo judeu sempre vai lutar contra o antissemitismo e a xenofobia. Líderes políticos são responsáveis por moldar o futuro. Historiadores descrevem o passado e investigam o que aconteceu. Nenhuma das partes deveria entrar em território da outra."

No início do mês, Bolsonaro fez uma visita de quatro dias a Israel, a convite do premiê Benjamin Netanyahu, um aliado político. Durante a viagem, ele visitou o museu Yad Vashem e causou indignação ao repetir a tese, tida como absurda e desonesta por historiadores, de que o nazismo teria sido um movimento de esquerda. A própria instituição define o nazismo como um movimento de direita.

Duramente condenado pelos maiores partidos políticos alemães, o posicionamento do presidente ecoou declarações recentes de seu chanceler, Ernesto Araújo, de que o nazismo teria sido um "fenômeno" de esquerda. O ministro repetiu um discurso que esteve em alta nas mídias sociais brasileiras durante as eleições, mas que jamais foi levado a sério por acadêmicos na Alemanha.

Na Alemanha, há um amplo consenso, nos âmbitos acadêmico, social e político, sobre a natureza de extrema direita do nazismo. A disputa sobre a classificação da ideologia nazista é inexistente entre historiadores renomados.

Os atuais defensores do "nazismo de esquerda" costumam se basear no nome oficial da agremiação nazista, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou NSDAP. A presença da palavra "socialista" revelaria a linha ideológica do regime. Historiadores internacionais sérios, porém, destacam que isso não passou de uma estratégia eleitoral para atrair a classe trabalhadora.


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