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Armas de brinquedo escondem perigos a crianças e adolescentes

Réplicas de armas de fogo, espadas, jogos eletrônicos cujo objetivo central seja a morte, são exemplos de ‘brincadeiras’ que estimulam um comportamento atrelado à violência. Com o passar do tempo, e presente no dia a dia de crianças e adolescentes, essa violência consequentemente, acaba se tornando banal.

Com o objetivo de debater a utilização de armas de brinquedo, foi instituído um dia para discutir as consequências dessa prática: 15 de abril – Dia do Desarmamento Infantil.
Garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o brincar é algo natural à criança mas, é importante debater como e com o quê ele é desenvolvido. O PhD em psicanálise clínica, Tibério Pessoa, explica de que maneira o comportamento é modificado por meio dessa prática.

“O comportamento da criança em meio aquilo que ela aprende, diz respeito óbvio a aquilo que lhe é ofertado. Quando é oferecida uma arma como forma de brincar, ela acaba minimizando o prejuízo que esse objeto pode oferecer ao outro”, pontuou Tibério.

Mas, as armas de brinquedos não são as únicas que promovem esse instinto, Tibério Pessoa destaca a banalização da violência presente, muitas vezes, no brincar. “A brincadeira com violência certamente gera a banalização, pois promove liberdade em ofender o outro. Essa possibilidade garante o poder sobre o outro. Por exemplo, decidir se o outro vive ou não e assim, faz com que o ‘afetar o outro gravemente’ seja natural”, destacou.

Na Paraíba, a Lei 10.225/2013 proíbe a fabricação, utilização e venda de armas de brinquedos. Esse veto é aplicado a similares ou réplicas de arma de fogo em qualquer natureza, incluindo brinquedos que disparam laser, luz, espuma, bala e assemelhados que projetem som ou substância que possa ser associado a revólveres.

Pais em alerta para brincadeira sem armas

A gravurista Marcela Lopes, mãe de Raul de 9 anos, conta que desde o nascimento do menino decidiu não incentivar brincadeiras, como também o uso de brinquedos que promovam a violência. “Não acredito que brincar com arma traga benefício para criança nenhuma, não deveríamos normalizar armas, existem muitos brinquedos disponíveis no mercado ou brincadeiras que podem ser planejadas até mesmo em casa”, contou.

Marcela acredita que por nunca ter incentivado esse comportamento, Raul nunca teve interesse em adquirir armas de brinquedo. Mas, recentemente, teve que prestar atenção aos jogos que o filho vinha consumindo. Raul havia baixado um jogo eletrônico versão mobile de ação-aventura, na história, os participantes precisam procurar armas, munições e suprimentos a fim de alcançar um único objetivo: matar todos os jogadores.

“Ele começou a jogar e imediatamente aprendeu sobre armas, tivemos que vetar, incentivamos outras brincadeiras. Inicialmente ele ficou triste, mas por meio da conversa conseguimos falar sobre o perigo, trazendo logo o exemplo de como seria aquilo se fosse na ‘vida real’”, disse a gravurista.

De acordo com o psicanalista, o maior perigo é o da criança ou adolescente construir, via comportamento, uma intimidade com esse objeto de consumo e o que ele oferece quando está em mãos. “Quando ele banaliza a presença da arma, desse que é também um meio de violência ao outro, faz com que, na cabeça dela, a realidade da arma se torne automaticamente viável porque ela não compreende, naquela idade, o poder que ela tem no que diz respeito a fazer algo que não mais poderá ser corrigido”, esclareceu Tibério.

Estatuto do Desarmamento

No Brasil, a política de controle de armas, o Estatuto do Desarmamento que vigora desde 22 de dezembro de 2003, por meio da Lei 10.826, protege crianças e adolescentes, considerando como criminosa a prática de “vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente”.

Essa proteção é reiterada também, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que determina, por meio do art. 79, às revistas e/ou publicações destinadas ao público infanto-juvenil, não devem “conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família”. Já art. 81, e proíbe a venda de “armas, munições e explosivos”.

O dia do ‘desarmamento infantil’ relembra a importância de discutir a cultura da violência e sobretudo, reforça o papel que a criança e o adolescente têm na sociedade, garantido constitucionalmente: o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade enquanto cidadãos em processo de desenvolvimento.


Por Cynthia Silva – MaisPB