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Homens não acreditam que podem ter câncer de mama

O pintor Antônio de Pádua Vancini, 54 anos, sentiu uma leve coceira no mamilo direito, em janeiro do ano passado, mas não deu muita importância. Foi após uma queda da escada, semanas depois, que veio o diagnóstico. “Era câncer de mama, para o meu espanto. Na verdade, fiquei com medo. Câncer de mama em mim? Nunca ia imaginar”, afirma.

O resultado rápido ocorreu depois de uma ferida no peito que não fechava. Já no pronto socorro, uma enfermeira indicou que o pintor buscasse ajuda de um mastologista no Instituto da Mulher, em Santos, no litoral de São Paulo. Lá, foi solicitada uma biópsia para confirmação da suspeita, além da indicação de acompanhamento psicológico.


A situação de Vancini é muito mais comum do que parece. O índice de diagnóstico de câncer de mama em homens, de acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, é de um a cada 100 casos em mulheres. Durante o ‘Outubro Rosa’, muitas campanhas de alerta sobre esse assunto tentam despertar a atenção masculina para o tema.

Segundo especialistas, o grande problema e principal desafio é fazer com que os homens acreditem na doença, afirma o mastologista Marco Antônio Dugatto. “Por virem de uma cultura machista, ignoram essa informação. São poucos os homens que nos procuram para uma avaliação prévia para diagnosticar a doença”, explica.

O médico acredita que a vergonha é o principal fator que impede o público masculino de procurar um mastologista, já que os consultórios são frequentados, geralmente, por mulheres, já que a incidência da doença é quase 100 vezes maior do que em homens. Quando procuram ajuda, muitas vezes, a doença já está num estágio avançado.

Foi o que aconteceu com Antônio Vancini, que não recebeu alta definitiva por conta da metástase (quando o câncer se espalha para outras partes do corpo). “Hoje, está nos ossos, e uma nova luta contra a doença começou”, afirma.

A primeira cirurgia aconteceu em março do ano passado. Desde então, ele tem seguido na luta contra a doença, sem deixar o humor de lado. “Cabelo já não tenho. Peito, também não. Então, está tudo bem”, brinca.

Todo o tratamento tem sido realizado na Beneficência Portuguesa, em Santos, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Sou grato a toda equipe médica e funcionários do hospital”, diz o pintor. O tratamento está previsto para continuar por mais cinco anos.

As dores são constantes, mas Vancini tenta conseguir o auxílio-doença do INSS. Desde o diagnóstico, ele está sem trabalhar, por conta da mobilidade limitada de seu braço direito. O apoio da família e dos amigos é considerado fundamental em seu tratamento. “Fiquei muito debilitado. Muitos sintomas, desde enjoo e diarreia até queda de cabelo e dos pelos do corpo todo. Com carinho e amor, fica tudo bem mais fácil”, finaliza.

Chance de cura

Assim como nas mulheres, o câncer de mama nos homens tem mais chances de cura quando diagnosticado no início. “As principais causas da doença nos homens são as alterações hormonais e genéticas, excesso de álcool, ingestão de alimentos gordurosos e uso de anabolizantes ou hormônios”, explica Marco Antônio Dugatto.

O médico diz que a prevenção tem de partir do homem. Ele defende a ampliação de campanhas que incluam o público masculino, com objetivo de facilitar o entendimento da doença. Para que isso seja possível, Dugatto recomenda o investimento de recursos em campanhas específicas, voltada a acabar com medos, mitos e preconceitos relacionados ao câncer de mama.

A Sociedade Brasileira de Mastologia aponta que o número de mortes de homens pela doença foi de 181, num total de quase 14.400 no total. A doença tem maior incidência entre homens mais idosos, mas pode ocorrer em qualquer idade. O histórico de câncer na família deve ser considerado para iniciar a prevenção, ou atenção maior, já que na maioria dos casos a doença está em estágio avançado, o que pode levar ao insucesso do tratamento.

O tratamento se assemelha ao das mulheres, e pode iniciar por cirurgia e quimioterapia. Devido à escassez do tecido glandular, em homens a opção cirúrgica é a mastectomia com investigação de linfonodos (gânglios) na região das axilas.


G1