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Na Paraíba, maconha medicinal é saída para pacientes com convulsão

Com um parto negligenciado pelos médicos, Pedro nasceu com pouca oxigenação. As condições de seu parto geraram uma lesão cerebral: síndrome de West. Aos três meses de vida, começou a ter convulsões, cerca de 40 por dia. O quadro só apresentou melhoras significativas com a maconha medicinal.

“Há um ano e meio ele está com as crises epiléticas controladas. Tem sete meses que ele não tem crise”, conta a mãe dele, Sheila Geriz.


Conhecida popularmente como maconha, a Cannabis pode ser utilizada para fins medicinais. No caso de Pedro, a substância usada é derivada da planta e se chama Canabidiol (CBD). O uso do Canabidiol para pessoas com epilepsia de difícil controle é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde que seja feita a prescrição médica.

De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina, João Medeiros, a prescrição geralmente é feita por médicos neurologistas, neurocirurgiões e intensivistas. “O uso compassivo está previsto na resolução que foi aprovada pelo Conselho Federal de Medicina e nós aceitamos. Há evidências de respostas significativa do uso do Canabidiol em casos de convulsões agressivas”, destacou o presidente ao Portal MaisPB.

Sheila e o marido ficaram sabendo do efeito da maconha medicinal para crises de epilepsia ao assistir uma reportagem. Depois que Pedro começou a usar, em 15 dias o quadro já não era o mesmo. “Antes ele tinha de 30 a 40 convulsões, rapidamente reduziu e ele passou a ter cerca de 18 por dia”.

O canabidiol usado por Pedro, que atualmente tem oito anos, é consumido como óleo. “É como se fosse azeite de Oliva. Tem gente que coloca no iogurte, no almoço, na sobremesa”, explica Sheila.

O garoto que hoje só usa um comprimido, já teve épocas de tomar mais de quinze em um só dia. De acordo com Sheila, seu filho não andava, não falava, nem apresentava qualquer tipo de interação.  Depois de quatro anos utilizando o Canabidiol, os efeitos são analisados em longo prazo.

“Hoje as crises estão zeradas, antes ele tinha a imunidade baixa e sempre ficava doente, hoje em dia não adoece mais. Melhorou o sono, o apetite, ele interage, brinca, dá risada”, pontuou.

O maior avanço foi registrado em novembro, quando aos 8 anos Pedro começou a andar. Antes, o garoto não conseguia sustentar o pescoço. Segundo Sheila, os avanços também são conseqüências do uso do CBD.  “Ele hoje é outra criança”, retrata.

Burocracia

Depois de ver a reportagem sobre o Canabidiol, Sheila e o marido começaram a buscar o produto. A burocracia e o medo de médicos em receitar a substância atrasaram a aquisição legal.

“Na época que começamos a pesquisar, Pedro tinha o acompanhamento de três neurologistas, mas nenhum deles quis prescrever o CBD”, conta a mãe. A saída foi buscar a Justiça.

Sheila procurou outras famílias que possuíam filhos com quadro epilético e juntos, acionaram a Justiça para conseguir ter acesso ao canabidiol. Com a ajuda do Ministério Público Federal (MPF), Pedro e mais 15 crianças tiveram acesso legal à substância.

Além do meio judicial, é possível ter acesso a Cannabis através da Anvisa. Mas é necessário seguir alguns protocolos, como ter laudo médico do problema e prescrição de um especialista. Também é preciso preencher um formulário disponibilizado pela Anvisa, que avalia a solicitação.

CRM ameaça processo administrativo

De acordo com o presidente da CRM-PB, apenas pessoas com quadro severo de epilepsia podem usar a planta medicinal. Mas na prática, a composição tem sido utilizada em outros quadros clínicos.

É o caso de Fernanda (nome fictício). Com doenças crônicas e dores constantes, a jovem tem utilizado o canabidiol como uma forma de amenizar os sintomas. “Não tem passado por completo a dor, pois eu tenho duas doenças sobrepostas, mas melhora bastante. Não há cura no canabidiol, mas há conforto. Traz muito alívio para mim”, conta.

O Conselho Regional de Medicina discorda. Segundo João Medeiros, só pacientes epiléticos têm comprovação de melhoras com a Canabis. “Não existe fundamentação científica que comprove eficácia e segurança”, explica.

Fernanda afirma estar buscando o acompanhamento de um profissional que prescreva a planta para seu tratamento. O CRM-PB diz não autorizar prescrições médicas que não sejam em quadros convulsivos.

“Se recebermos uma denúncia de que há um médico receitando a planta em casos que não sejam indicados, investigamos o médico e caso seja constatado, podemos até abrir uma sindicância, o que pode gerar um processo profissional e uma punição”, explica.

Direito ao cultivo e consumo

Apesar das sugestões, um novo passo pode ser dado em João Pessoa. Após conseguir autorização para que Pedro utilizasse a Canabis, Sheila agora luta para que pessoas com outras patologias possam usar o canabidiol. Com a associação ‘Liga Canábica’ e apoio da Defensoria Pública, a ativista pretende entrar com uma ação judicial que autorize o cultivo da planta.

A ação ainda está sendo preparada. Caso seja concedido o uso, cerca de 50 pacientes vão ser beneficiados. “Vai ser para qualquer patologia. Doenças como Alzheimer, Parkinson, autoimunes poderão ser tratadas com a substância”, conta Sheila.

De acordo com a ativista, a autorização permitirá que muitos pacientes saiam da ilegalidade e ainda reduzirá os custos em cerca de 95%.



Por Caroline Queiroz