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Casal constrói a casa própria e economiza comendo gelatina

Os calos nas mãos do pedreiro de Sorocaba (SP) João Bremer, de 42 anos, e da esposa, Cleide Freire de Jesus, de 36, fazem parte do acabamento de uma obra fundamentada no sonho de um futuro concreto.

Juntos, marido e mulher colocaram – literalmente – as mãos na massa e empilharam bloco por bloco para darem forma à casa própria que vivem hoje após muito mais esforço além do físico, como economizar até na comida do almoço e do jantar. João conta que no período de “perrengue” ele e a esposa foram obrigados a entrar em uma dieta nada fácil, que consistia em comer gelatinas na maioria dos dias.

“Comemos mais de mil gelatinas para economizar. Pelo menos dávamos para dar uma variada para não enjoar do sabor”, brinca.

Sozinhos, os dois fizeram uma força-tarefa para levantarem as primeiras paredes da casa com empréstimos e os sacrifícios diários. No entanto, vândalos entraram na residência que alugavam e levaram todos os móveis antes de organizar a mudança.

Apesar de abalados com o furto, a notícia de que a família iria aumentar fez acelerar o processo que, até então, tinha andamento aos fins de semana.

Grávida, Cleide ajudou o marido a finalizar a casa ao ponto de poderem ter mínimo de conforto para receber a filha que chegaria ao mundo.

“Só tínhamos praticamente uma cama usada, colchão e geladeira que não conseguiram levar. Demorou, mas conseguimos comprar bastante coisa aos poucos e também ganhamos móveis de parentes”, lembra João.

Pedreiro por acaso

A profissão no ramo da construção entrou por acaso e ao mesmo tempo por necessidade há 20 anos na vida do pedreiro.

João conta que na época foi procurado por uma mulher para construir um muro, mas havia um problema: ele não entendia nada sobre a área.

“Eu não tinha ideia de como construía", diz. João resolveu apresentar um orçamento bem mais alto, para 'assustar' a cliente, mas ela aceitou pagar o que ele pediu.

"Foi um desafio e foi por Deus, porque deu tudo certo e parecia que eu fazia aquilo há muito tempo”, diz. A experiência na ocupação - celebrada nesta quinta-feira (26) com o Dia do Trabalhador da Construção Civil – deu tão certo que deslanchou.

O passar dos anos veio com o aprimoramento em meio aos estudos.

“Comecei a trabalhar na roça com seis anos, mas minha mãe mandou ir para a cidade para estudar e trabalhar. Levei isso a sério e depois que aprendi a trabalhar com construção ficava bem cansado, mas dava um jeito de ir para a escola”, conta.

Após mudar várias vezes de cidade e terminar cursos técnicos na área de saúde, ele tentou cursar faculdade, mas, na época, a rotina puxada o obrigou a abandonar por ora o sonho do diploma universitário.

Hoje, 12 anos depois de cruzar pela primeira vez os portões da faculdade, a batalha pela finalização da casa terminou também com a conquista da graduação.

O agora fisioterapeuta trabalha na construção durante a semana e tem como meta para o próximo ano a pós-graduação em gestão em saúde e, quem sabe, comemorar o Dia do Trabalhador da Construção Civil com nostalgia.

“Trabalhar com pessoas tem seus momentos emocionantes e tristes. Faz parte. Mas posso dizer que todo esforço vale a pena.”



G1