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Risco de desenvolver melanoma aumenta 35 vezes; dermatologista alerta

O melanoma é o câncer decorrente do crescimento anormal dos melanócitos (células responsáveis pela produção de melanina, que dá a cor e pigmentação à epiderme). 

No ano de 1935, o risco de desenvolver melanoma era de 1 para 1.500 indivíduos. Em 2010, esse número subiu para 1 entre 48. Na Paraíba, de 2016 até julho deste ano, a Secretaria de Saúde registrou 70 casos de pacientes com o câncer, sendo 40 homens e 30 mulheres. 

O melanoma é o menos comum, porém o mais agressivo entre os cânceres de pele – e sua incidência vem crescendo. No mundo, cerca de 200 mil casos de melanoma são diagnosticados por ano e 55 mil pessoas vão a óbito, o equivalente a 6 mortes por hora, segundo a OMS.


Questionada sobre quais as pessoas mais suscetíveis, a dermatologista paraibana Carla Marsicano, em entrevista ao Portal Correio, disse que o melanoma agride mais gravemente pessoas entre 40 e 70 anos. “O câncer de pele acomete pessoas de ambos o sexos, tanto homens como mulheres, na mesma proporção, mas há uma faixa etária predominante, entre os 40 e 70 anos de idade. Também é mais suscetível no paciente de cor branca”, exemplificou.

Sobre as causas, Carla disse que o histórico familiar conta. “As causas ainda não são bem esclarecidas, mas sabe-se que os fatores genéticos e ambientais podem ser responsáveis por essa predisposição, ou seja, pacientes da mesma família podem desenvolver melanoma, então o histórico familiar é importante. Pacientes que se expõem demasiadamente ao sol e tem uma pele mais clara, são os que mais têm predisposição a desenvolver a doença”, disse Carla.

A doença acometeu o advogado Almir Alves Dionísio, que acha pouco provável ter adquirido por causa do sol. “Comecei a estranhar o incômodo do sinal; ele coçava às vezes e tinha uma aparência estranha. Então mostrei a minha irmã, que é médica, e ela disse que procurasse um dermatologista porque realmente era um sinal estranho. Procurei e ele sugeriu que fosse retirado imediatamente. Assim fiz e, após a cirurgia, fiz a biópsia e foi dado como maligno. Achamos muito pouco provável ter sido por causa do sol. Minha tia e avó tiveram o câncer, então acho que herdei”, disse ele.

No Brasil, são registrados anualmente 5.560 novos casos da doença e 1.547 óbitos, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). O especialista em melanoma do Hospital Sírio Libanês e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Rodrigo Munhoz, afirma que ainda não é possível atribuir esse aumento de casos a um fator específico. 

“Em 65% dos casos, o melanoma está relacionado a exposição solar excessiva. Por isso, a prevalência da doença é maior em pessoas brancas, de peles e olhos claros, com muitas sardas”, enfatizou Rodrigo. No entanto, Rodrigo explica que há tipos específicos de melanoma mais comuns em pessoas negras ou em áreas do corpo não expostas ao sol, como couro cabeludo ou solas dos pés. 

O médico ainda reforçou também que nem sempre o melanoma está associado a uma pinta. “As pessoas ainda confundem uma pinta comum, que pode ser retirada no consultório, com câncer. O melanoma é uma doença grave que pode avançar para os nódulos linfáticos e outros órgãos do corpo, como cérebro, pulmões, ossos e fígado - a chamada metástase. Por isso o diagnóstico precoce é tão importante”.

Queimaduras solares 

Um estudo publicado na revista Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention (CEBP), que analisou 108 mil mulheres brancas, revelou que o risco de que elas desenvolvam melanoma é 80% maior. 

Dentre as participantes do estudo, cerca de 24% tiveram episódios de queimadura solar com bolhas dolorosas no início da vida, sendo que 10% relataram já ter passado por esses episódios mais de cinco vezes. 

Do total, foram diagnosticados 779 casos de melanoma. Para Rodrigo Munhoz, esses dados podem estar diretamente relacionados à exposição solar excessiva na juventude, quando a atenção com a saúde da pele costuma ser menor. 

“A preocupação com a saúde da pele deve acontecer desde o início da vida. Há estudos que mostram que determinadas alterações genéticas relacionadas ao melanoma são derivadas de exposição solar excessiva e repetitiva, ou seja, significa que a exposição ao sol foi inadequada repetidas vezes”, comenta o médico.
Sobre as alterações genéticas, ele comenta que uma das mais comuns – encontrada em mais de 50% dos casos de melanoma – é a mutação V600, ocorrida no gene BRAF, levando a uma maior proliferação celular. 

Saber da existência dessas mutações permite ao médico prescrever o tratamento adequado ao paciente. “Hoje, existem opções terapêuticas voltadas para pacientes com melanoma que apresentam essa mutaçã, incluindo terapia-alvo e imunoterapia”, completa.

Filtro Solar

Ao Portal Correio, Carla Marsicano disse que o uso de filtro solar é imprescindível, mesmo que não seja para ir à praia. 

“O filtro solar é de extrema importância na prevenção do câncer de pele. Se faz necessária a aplicação antes de sair de casa e reaplicar esse filtro a cada três horas. Se está exposto ao sol, é importante o uso da camisa contendo o filtro, usar chapéu, boné, sombrinha, enfim, a agressão direta deve ser evitada”, enfatizou.



Por Isis Vilarim