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Professor conceiçoense da UFPB fala sobre lições de desenvolvimento no Brasil e na Coréia

O professor do departamento de economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Erik Figueiredo, fala, em seu novo artigo, sobre as lições de desenvolvimento no Brasil e na Coréia. 

O artigo semanal é uma parceria do Departamento de Economia da UFPB com o Grupo WSCOM.

Segundo Erik, "os dois países enfrentaram longos períodos de ditaduras e, ao olharmos para os indicadores atuais, notamos uma diferença nada sutil nos resultados."

Confira o artigo na íntegra abaixo:


Brasil e Coréia: lições para o desenvolvimento 

Por Erik Figueiredo

Os últimos anos da década de 1950 impuseram importantes desafios para a economia do Nordeste brasileiro. Devastada pela forte seca de 1951-53 e com taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB) inferiores as do resto do país, a Região buscava soluções direcionadas à superação do subdesenvolvimento.  Diversas estratégias foram sugeridas. Em certa medida, todas seguindo as orientações do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), coordenado pelo paraibano Celso Furtado. A ideia fundamental era promover o desenvolvimento a partir de um processo de industrialização. Nas palavras do próprio Furtado, seria necessária "uma reorientação das políticas para o Nordeste: da solução hidráulica para a indústria e o desenvolvimento (Indústria e não açudes para o Nordeste, Diário de Pernambuco de  5 de fevereiro de 1959). 

A aproximadamente 18 mil km, a região de Gyeonggi, na atual Coréia do Sul, passava por problemas ainda mais severos do que os observados no Nordeste do Brasil. Convém relembrar que o país acabara de enfrentar a "Guerra da Coreia” (1950-53), deixando a península coreana dividida e empobrecida. Para se ter uma ideia, a Coréia do Sul tinha um PIB per capita inferior ao de muitos países africanos. Contudo, diferente da estratégia desenvolvimentista brasileira, os coreanos optaram por uma política voltada para o setor exportador e, em grande medida, para a melhoria dos indicadores educacionais e de produtividade. Em poucas palavras, pode-se dizer que, dispondo de poucos recursos naturais, a Coréia do Sul resolveu apostar em seu povo.

Ambas estratégias foram colocadas em prática ao passar dos anos. Os dois países enfrentaram longos períodos de ditaduras e, ao olharmos para os indicadores atuais, notamos uma diferença nada sutil nos resultados. Na década de 1960, a Coréia do Sul tinha um PIB per capita de 900 dólares, enquanto PIB per capita brasileiro era quase o do­bro desse valor. 

Atualmente, o PIB per capita sul coreano é de 32 mil dólares, já o brasileiro passou para 10 mil dólares. Os diferentes níveis de desenvolvimento alcançados ficam ainda mais gritantes na área educacional. Na Década de 1960, a taxa de analfabetismo dos dois países era de cerca de 35% da população. 

O Brasil ainda possui uma taxa próxima a 8,3%. Os sul coreanos possuem uma taxa igual a zero. Em exames internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), os sul coreanos estão frequentemente entre os 10 primeiros colocados. O Brasil figura entre os 10 últimos disputando posições com a República Dominicana, Líbano e Tunísia.

Retornando a questão regional, Gyeonggi é hoje um dos pilares da indústria sul coreana, sediando empresas de renome internacional como a Samsung e LG. O detalhe é que elas não foram instaladas na região por decreto. Elas nasceram de iniciativas locais. Elas encontraram mão-de-obra especializada, muito bem treinada e educada. Já a região Nordeste do Brasil continua a apresentar indicadores inferiores aos do resto do país. A industrialização não veio, mas a seca retorna de tempos em tempos demandando socorro governamental. Diante disso, é fácil justificar a postura dos formuladores de política pública sul coreanos. Eles continuam firmes com suas estratégias voltadas para a educação e para o setor exportador.  Difícil mesmo é entender a lógica brasileira. Por aqui, defendemos as políticas desenvolvimentistas da década de 1960 como uma solução viável. Lamentamos o fim da SUDENE.  Tememos a abertura comercial. Qualquer reforma que privilegie a produtividade do trabalho é considerada um retrocesso. Enfim, ainda temos um longo caminho carregando o rótulo de eterno país do futuro. 




Da Redação com Wscom