Comitê decide nesta quarta-feira (29) a nova taxa básica de juros. Taxa está neste patamar, o maior em três anos, desde abril deste ano.
Ambiente econômico
A decisão deste mês do Copom acontece em um momento de estagnação da economia. Nos dois primeiros trimestres deste ano, houve retração do Produto Interno Bruto (PIB) - algo que os economistas classificam como "recessão técnica".
Em julho e agosto, dados preliminares do BC indicam que pode estar havendo recuperação, mas, para os economistas dos bancos, o PIB deve crescer apenas 0,27% em 2014 - o pior resultado desde 2009 (quando houve retração de 0,33%).
O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos em território brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o crescimento da economia. Ao mesmo tempo, a inflação segue pressionada. Em doze meses até setembro, o IPCA somou 6,75% - acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro. Entretanto, o governo considera que a meta foi cumprida ou não apenas com base no acumulado em 12 meses até dezembro de cada ano.
Analistas avaliam que os chamados preços administrados, como telefonia, água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros, continuam pressionando a inflação em 2014 e acreditam que esse cenário deve permanecer no próximo ano. Além disso, a inflação de serviços, impulsionada pelos ganhos reais de salários, segue elevada. Recentemente, outro fator que pressiona a inflação também apareceu no radar - a alta do dólar. Em setembro, a moeda norte-americana teve o maior aumento mensal desde 2011 e, no inóicio desta semana, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, tem operado ao redor de R$ 2,50.
O que dizem os economistas
Para Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, não é o momento de o Banco Central mexer nos juros - em meio a um quadro de transição política para um novo governo, mesmo que a presidente Dilma tenha sido reeleita. "A economia segue com ritmo fraco. Em um contexto de fim de mandato e de transição, o BC deve manter política inalterada e, a partir de mudanças anunciadas [na política econômica como um todo], se retomar um caminho da política monetária [definição dos juros]", declarou ele.
Campos Neto observa que houve "perda de credibilidade" do BC nos últimos anos, uma vez que a inflação oscilou ao redor de 6% nos últimos anos e meses, mais próxima do teto do sistema de metas, do que do objetivo central de 4,5%, e que a instituição teria de promover um aumento muito grande da taxa neste momento para tentar retomar a confiança.
"A politica macroeconômica está muito desajustada, especialmente o lado fiscal [gastos públicos] nos últimos anos. Isso dificulta ainda mais o lado da política monetária [definição dos juros]. É importante recolocar a parte macroeconômica em ordem, com uma política mais consistente fiscal e monetária, e mostrar como lidar com o câmbio, zerando o jogo, e passar para a sociedade quais são os objetivos", avaliou o economista da Tendências.
Para Patrícia Pereira, da Mongeral Aegon Investimentos, mesmo com um ambiente desafiador para a inflação, o BC deve manter os juros estáveis nesta quarta-feira. "O BC está nesse desafio em que a inflação é alta com a atividade fraca. Além disso, o dólar está para cima, e vem se valorizando, o que é inflacionário para o país", declarou ela, que projeta um IPCA de 6,4% para este ano e de, pelo menos, 6% para 2015.
Segundo a economista, outro desafio para o próximo ano são os preços administrados, com vários itens com reajustes represados, que serão aplicados em 2015, como ônibus urbanos por exemplo. Para ela, também é importante definir qual vai ser a futura equipe que vai comandar a economia.
"É bem difícil a gente saber como vai ser essa nova política econômica. Se vai ser nova, ou se não vai ser. O mercado parece que reage bem à possibilidade de um nome mais forte na Fazenda. O nome novo vai dar cara à politica econômica no ano que vem", declarou ela.
De acordo com Patrícia Pereira, seria importante um governo mais preocupado com as contas públicas, "fazendo o dever de casa", para que a economia passe por um ajuste em 2015 e possa ter anos melhores de 2016 em diante. "Com a politica econômica atual, vai ser difícil ver melhora à frente", concluiu.
G1